Falta de dispositivos e conectividade entre alunos dificulta aprendizado remoto no Brasil

Habilidades técnicas insuficientes dos professores também são um problema que as escolas têm experimentado desde o surgimento do Covid-19, descobriu um estudo.

A falta de equipamentos e conectividade dos alunos tem sido uma grande barreira para as escolas brasileiras no acompanhamento das aulas durante a pandemia Covid-19, constatou um estudo.

Realizado por Cetic.br, braço de pesquisa do Comitê Gestor da Internet, o estudo investiga os desafios e estratégias para a continuidade da aprendizagem por meio da pandemia.

O relatório tem cinco capítulos com exemplos de diversos países, e uma análise das abordagens adotadas para ministrar aulas em meio às paralisações do Covid-19, das quais duas se dedicam à experiência brasileira. Temas como exclusão digital no contexto da aprendizagem remota estão incluídos no relatório, bem como a adoção de soluções para contextos com ou sem o uso da tecnologia.

Segundo Alexandre Barbosa, gerente da Cetic.br, o estudo destaca a importância da produção de dados e pesquisas que ilustram o contexto da educação na pandemia, as soluções implementadas, os resultados e as lições aprendidas. “Todas essas análises baseadas em evidências são extremamente relevantes para a implementação de políticas públicas de inclusão digital no país”, acrescentou.

Em relação ao Brasil, o relatório observou que a falta de dispositivos como computadores e smartphones, bem como o acesso à Internet nas casas dos alunos, foi um desafio para 93% das escolas, o equivalente a 94 mil instituições em todo o país.

Além disso, outra grande barreira ao uso de recursos tecnológicos nas atividades de ensino foi a falta de habilidades técnicas entre os professores, citada por 63% das escolas públicas. Por outro lado, os pesquisadores observaram que os desafios relacionados à tecnologia são relevantes, mas convivem com uma série de outras questões, como a dificuldade que as escolas experimentam em atender alunos em situação de vulnerabilidade social.

De acordo com o estudo, uma das medidas introduzidas pela maioria das escolas públicas do Brasil para contornar tais dificuldades foi agendar consultas com os pais na escola para que pudessem coletar atividades e materiais impressos na escola. Essa foi uma medida adotada por 93% das escolas pesquisadas.

Cerca de 87% dos diretores da escola entrevistados relataram que as escolas adotaram o uso de pelo menos um tipo de tecnologia para apoiar estratégias de educação remota: nove em cada dez gestores disseram ter criado grupos em plataformas como redes sociais para se comunicar com alunos ou pais e responsáveis legais.

Videoaulas foram gravadas e disponibilizadas aos alunos por 79% das escolas, enquanto 65% usaram plataformas de videoconferência e 58% usaram plataformas virtuais de aprendizagem.

Quando se trata de escolas localizadas em áreas fora dos grandes centros urbanos, no entanto, o quadro é bastante diferente: apenas 34% das escolas rurais usavam ambientes virtuais de aprendizagem. A proporção foi menor entre as escolas localizadas no Norte do Brasil (31%), que tem problemas significativos de conectividade, entre outras limitações socioeconômicas.

Oito em cada dez diretores de escolas entrevistados afirmaram que as escolas realizaram algum tipo de atividade com os alunos para discutir o uso seguro, responsável e crítico da internet, de acordo com o estudo. Os tópicos mais discutidos foram cyberbullying, discurso de ódio e discriminação online, mencionados por 66% dos diretores das escolas.

À medida que o uso de plataformas digitais e redes sociais se torna generalizado em ambientes educacionais, especialistas brasileiros têm levantado preocupações em torno das grandes quantidades de dados coletados e do cumprimento do Regulamento Geral de Proteção de Dados.

“As escolas ainda precisam de apoio para se adequar melhor à nova lei e proporcionar maior segurança quando se trata da proteção dos direitos das crianças e adolescentes”, observou o relatório, acrescentando que menos da metade (41%) das escolas tinham políticas de segurança da informação das políticas de proteção de dados em vigor.

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